quinta-feira, 5 de março de 2009

Excomunhão

Quando vejo casos como esse da Igreja de Recife, condenando e excomungando os envolvidos no aborto da menina de 9 anos, que além de ter sido estuprada, corria risco de vida ou de sequelas, dá vontade de propor um levante contra toda e qualquer religião, já que todas possuem o mesmo teor conservador, inflexível, anti-evolucionista (não apenas no sentido biológico, mas também contrários à evolução do conhecimento, do comportamento). Alguém certamente dirá: quase todas; poderia tentar contestar, mas para ser mais seguro, defenderei que isso se aplica pelo menos às principais religiões. E quando digo "religião", me refiro não apenas a esta ou àquela igreja, ou a reuniões em mesquitas e afins, mas ao simples ato de se adotar um livro, um conjunto de princípios e conhecimentos milenares - como a Bíblia, o Alcorão, o Torá -, perigosamente desligados da nossa realidade e do nosso nível de conhecimento, como dogma, como palavras irrevogáveis de uma entidade invisível onipotente e oniciente, quando tais livros são nada mais do que documentos históricos e literários, retratos do conhecimento e da ética de um período remoto, de povos específicos, que se utilizavam da mitologia para reforçar sua credibilidade; quando possuímos conhecimento e ética laicos tão mais sofisticados, tão mais adaptados à realidade, em constante e, mais importante, permitida evolução. A Igreja Católica, e tantas outras igrejas ou religiões, em casos como o dessa menina, dão tiros no pé. A sociedade deveria dar respostas veementes contra a Igreja, ou pelo menos contra essas posturas. No final das contas, quem merece ser excomungado é esse arcebispo de Recife: excomungado, separado, não da Igreja ou do paraíso, que não existe, mas da sociedade, de seus ideais; a Igreja merece ser excomungada da sociedade.

Nenhum comentário: