quarta-feira, 1 de abril de 2009

Supercompactos europeus no Brasil

Não poderia deixar o assunto passar: meu colega fez sua análise da chegada dos carros supercompactos europeus (ver reportagem) ao Brasil no seu blog (leia aqui), e eu gostaria de debater um pouco o assunto.

"A aposta dos 3 modelos é, basicamente, design. Em sua concepção mais geral. Foram carros projetados para ter um forte apelo visual, baixa potência e baixo consumo de combustível. Cumprem a promessa com afinco. Mas valem o que custam?"

Não acho que seja uma aposta no design. Todos os modelos, de todas as montadoras, inclusive as decadentes americanas, apostam nisso que chamam de design, ou no apelo visual. A aposta européia é na inovação: em comportamentos e em produtos mais adequados às suas incontáveis metrópoles, que não possuem espaço para tantos carrões "quase desocupados" (ou seja, com 4 lugares vazios); em produtos mais adequados à crescente preocupação da sociedade com a eficiência (seja no consumo de combustível, seja na eficiência espacial, já comentada) e com menor poluição.

A aposta no novo -- que seja: a aposta nos supercompactos, a aposta nos elétricos, nos híbridos, nos flex, nos superbaratos -- é o único caminho viável, ou o único caminho aceitável, para indústria automobilística. Quem achar que pode continuar construindo carroças gigantescas devoradoras de combustível, carros luxuosos com 5 lugares para serem usados 90% das vezes por uma só pessoa, pode acabar como a GM. Falta apenas as montadoras -- mas também a sociedade, o Estado, as empresas envolvidas -- apostarem também (ou apostarem mais) nos veículos coletivos -- ônibus mais confortáveis, menos barulhentos, com maior variedade de formatos, mais eficientes, menos poluentes etc, além dos trens, VLTs e outras variantes que quiserem surgir --, e nos veículos verdadeiramente individuais -- motocicletas mais eficientes, mais seguras, elétricas etc; além, é claro, das bicicletas.

Portanto discordo de:

"Me parece mais uma atitude desesperada, do que um investimento pensado."

Como já disse, considero este o único caminho aceitável para a indústria automobilística: o da aposta na verdadeira inovação, uma inovação de comportamento, com uso intensivo de novas tecnologias e de novos materiais, ao invés de meras especulações formais, como parecem fazer algumas montadoras (especialmente as americanas), criando várias caras diferentes para produtos, que no final das contas são a mesma coisa: carroças gigantes e retrógradas, incompatíveis com a realidade de boa parte, ou da maior parte, dos que as compram.

Com relação ao preço pago por esses novos carros supercompactos no Brasil, imagino que seja compatível com a importação em pequena escala desse tipo de produto. Com esse preço realmente vai ser difícil ele se tornar popular por aqui. Melhor seria, ou melhor será, quando as montadoras brasileiras fabricarem esses modelos, ou melhor que isso, quando os designers brasileiros desenvolverem nossos próprios modelos supercompactos, supereficientes, elétricos, etc etc, para serem fabricados aqui. Aí sim os preços (e os carros) serão mais compatíveis com a nossa realidade.

2 comentários:

Ronaldo Porto disse...

Anderson,

Concordo com você 110% no que tange aos carrões, carrinhos e alternativas novas - design e inovação. Gostaria que você lesse meus primeiros posts no blog, no qual detono as montadoras americanas e suas opções por SUVs durante todo os anos 90 e neste início de década.

Peço pra você alimentar esta discussão também lá nos comentários do blog, para que esse assunto seja debatido - acho que merece debate.

Além disso, gostaria de esclarecer que meu post, e o comentário sobre a atitude desesperada, reflete tão somente a importação destes produtos para o Brasil a um preço exorbitante - que afasta este carro de ser uma alternativa econômica e o torna um carro de nicho - fazendo com que seu propósito final seja posto em cheque. Me entende?

De qualquer maneira, obrigado pela citação!

Ronaldo Porto disse...

E para completar, o que chamei de Design, em sua concepção mais ampla, é justamente o desprendimento do apelo visual, e as questões relativas ao design (desenho industrial) de fato - como parametros projetuais, processo de fabricação. Tudo não dizem ser design, mas que de fato é o design em sua essência - o projeto.